Revista científica 'Nature' afirma que Bolsonaro provocou uma 'crise épica de saúde pública'

Revista científica 'Nature' afirma que Bolsonaro provocou uma 'crise épica de saúde pública'
Reportagem comparou postura 'anticientífica' de Bolsonaro ao do ex-presidente americano Donald Trump Foto: EVARISTO SA/AFP/9-2-2021

RIO — A revista Nature, uma das publicações científicas mais prestigiadas do mundo, dedicou uma reportagem de sua edição desta semana à frustração sentida por pesquisadores brasileiros, que enfrentam a "fase mais negra" da pandemia do coronavírus no país, diante do colapso do sistema de saúde pública e das atitudes negacionistas do presidente Jair Bolsonaro.

O Brasil tem apenas 3% da população global, mas registrou 13% de todos os óbitos por coronavírus, alertou a publicação. O elevado índice de mortalidade teria relação com Bolsonaro, que minimizou a pandemia, chamando-a de gripezinha, e afirmou que vacinas eram perigosas - sobre o imunizante da Pfizer, disse à população que, "se você virar um jacaré, é problema seu".

"Bolsonaro, uma figura polarizadora que foi comparada ao ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, vem contradizendo a opinião científica desde o início da pandemia", afirmou a revista, destacando que o presidente cortou fundos para as universidades públicas e os ministérios da Ciência e Educação após assumir o mandato, em 2019.

A reportagem destacou que Bolsonaro se recusa a usar máscara facial, mesmo após ter sido infectado, em julho. E, ainda, que não determinou o fechamento de negócios não essenciais, alegando que a medida seria prejudicial à economia. Já os governadores que tomaram esta medida foram chamados de "tiranos".

A microbiologista Natalia Pasternak,presidente do Instituto Questão de Ciência e colunista do GLOBO, revelou à reportagem que "nenhum de nós (cientistas) poderia prever que (a pandemia) seria tão ruim".

— É muito difícil implementar medidas preventivas quando a desinformação vem diretamente do governo federal — afirmou Pasternak, citada como um dos cientistas que preferiu "deixar de lado suas pesquisas para fazer aparições na TV nas quais promove práticas como o distanciamento social".

De acordo com a reportagem, o surto do coronavírus foi alimentado com a disseminação de suas variantes, principalmente a chamada P.1., que surgiu na Amazônia em novembro do ano passado.

De acordo com o virologista Mauricio Nogueira, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, o governo federal cortou recursos para fazer pesquisas que mostrariam a ação e o potencial de contaminação das variantes.

— Temos as ferramentas ou pelo menos a capacidade de ajudar o país, mas estamos sendo ignorados, e não apoiados — lamentou.

A "Nature" ressaltou, também, que apenas um em cada dez brasileiros recebeu a vacina contra a Covid-19 até agora.

Fonte: O Globo