Saiba como terapia com animais de estimação pode ajudar na saúde mental

Saiba como terapia com animais de estimação pode ajudar na saúde mental

Os animais de estimação, como cães e gatos, há muito tempo desempenham papéis significativos na vida de seus tutores. Mas, além do afeto e da companhia que oferecem, esses bichinhos podem também desempenhar um papel fundamental no alívio dos sintomas de transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão. 

F5 News conversou com a psicóloga Bianca Galindo e o professor Marcos Figueiredo, coordenador do Departamento de Medicina Veterinária de uma faculdade em Aracaju, para entender os mecanismos por trás da terapia com animais de estimação e as formas pelas quais podem ser eficazes em tratamentos na área de saúde mental.

A psicóloga Bianca Galindo afirma que os seres humanos possuem necessidades inatas de vínculo e conexão. “Os animais como cães e gatos têm capacidades significativas de responder ao relacionamento com os humanos, sendo ótimos animais de companhia, que oferecem afeto, conforto e podem oportunizar momentos positivos de brincadeiras, lazer, rotinas de cuidado e responsabilidades”, disse ao F5 News.

“Para aqueles que estão enfrentando processos depressivos e ansiogênicos, a troca afetiva e boas interações proporcionadas por esses animais no dia-a-dia podem ser fatores tanto protetivos quanto auxiliares no cuidado de quem busca tratamento", explica a psicóloga.

O professor e veterinário Marcos Figueiredo complementa, explicando que a adoção de animais de estimação como parte do processo de recuperação de transtornos psicológicos tem se mostrado benéfica para muitas pessoas. 

"A simples presença de um animal pode ser reconfortante e ajudar as pessoas a se sentirem menos isoladas", diz. Além disso, essa interação é capaz de reduzir os níveis de estresse e ansiedade. "A pesquisa demonstrou que acariciar e interagir com animais pode diminuir a produção de cortisol, o hormônio do estresse, o que é fundamental para o bem-estar mental", acrescentou o veterinário ao F5 News


Os mecanismos psicológicos por trás do efeito terapêutico

 

Quando questionada sobre os mecanismos benéficos do efeito terapêutico dos animais de estimação, a psicóloga Bianca Galindo afirma: "como apontam as pesquisas, quando se estabelece contato e relacionamento com os animais de estimação, isso auxilia na diminuição da sensação de solidão e medo, muitas vezes presente em casos de depressão e transtornos de ansiedade. Além disso, esse vínculo tem sido associado à diminuição da frequência cardíaca e à sensação de relaxamento muscular.".

“Outro ponto relevante, especialmente em casos de depressão, é a anedonia, que é a ausência ou diminuição de prazer. Sabe-se que os indivíduos que estão apresentando sintomas depressivos, estresse e ansiedade intensa, podem acabar se isolando socialmente e paralisando suas atividades. Nesse contexto, o relacionamento com o animal de estimação surge como possibilidade de gerar movimentação e estimular o seu dono a se envolver com brincadeiras, atividades e passeios que também podem levar a conexão com outras pessoas”, diz a psicóloga.

Segundo Bianca Galindo, algumas pesquisas mostram que o envolvimento com os bichinhos de estimação promove a liberação de hormônios do prazer e bem-estar como a serotonina, endorfina, ocitocina, contribuindo para a redução dos níveis de cortisol, o hormônio do estresse

Quando questionada sobre quais tipos de transtornos psicológicos tendem a se beneficiar mais da terapia com animais de estimação, a psicóloga Bianca Galindo enfatiza a importância de considerar o interesse genuíno da pessoa em adquirir um animal de estimação. 

"As pessoas que sentem necessidade de apoio emocional, companhia e/ou que apresentam depressão, transtornos de ansiedade, estresse pós-traumático podem se beneficiar bastante do convívio com um animal de estimação", afirmou ela. 

Ela também mencionou o projeto de lei chamado Esan - Animais de Assistência Emocional -, que visa garantir a companhia de animais domésticos de pequeno porte em meios de transporte ou locais abertos ao público, por pessoas com deficiência mental, intelectual ou sensorial, como uma prova de que a presença de um animalzinho pode ser benéfica em momentos de maior vulnerabilidade mental e emocional.

Integração da terapia com animais de estimação

Quanto à integração da terapia com os pets nos tratamentos, a psicóloga afirma ser fundamental observar o interesse e a prontidão do paciente para essa abordagem.

"Dentro da psicoterapia, é importante avaliar as necessidades e as condições do paciente e, a partir do processo de psicoeducação, abordar essa questão, partindo da perspectiva do paciente e prontidão para tal," explicou a Psicóloga. 

Ela também compartilhou um exemplo de paciente que levou seu gato em uma viagem de avião durante uma separação conjugal, demonstrando como a presença do animal pode tornar situações difíceis mais suportáveis.

Escolha do animal de estimação

Sobre as diferenças entre tipos de animais de estimação, como cães, gatos, pássaros ou cavalos, a psicóloga Bianca Galindo expõe a importância de uma escolha criteriosa. "É importante pensar qual objetivo ao ter esse animal. Acredito que o ponto principal é a identificação com a escolha do animal de estimação e avaliar a capacidade e possibilidades de cuidado dele. Também sentir o que mais se conecta com sua realidade para que se possa desfrutar dos benefícios dessa relação."

Escolher um animal de estimação para ajudar no tratamento de problemas de saúde mental é uma decisão importante. O veterinário Marcos fornece algumas considerações cruciais para a decisão:

1. Tipo de animal: Diferentes pessoas se beneficiam de diferentes tipos de animais. Avalie com qual tipo de animal você se sente mais confortável e compatível.

2. Personalidade do animal: As personalidades dos animais variam amplamente, mesmo dentro da mesma raça. Procure um animal com uma personalidade que combine com a sua.

3. Necessidades de cuidado: Avalie suas habilidades e disponibilidade para cuidar do animal. Certifique-se de poder atender a essas necessidades.

4. Alergias e preferências: Leve em consideração alergias a pelos de animais e preferências pessoais.

5. Tamanho do animal: Considere o espaço em sua casa.

6. Treinamento e socialização: Certifique-se de que o animal esteja bem treinado e socializado.

7. Tempo de Compromisso: Animais de estimação podem viver muitos anos. Certifique-se de estar disposto a assumir o compromisso de cuidar do animal ao longo de sua vida.

"Não há raças específicas que sejam universalmente mais adequadas para ajudar no tratamento de problemas de saúde mental, pois depende das preferências individuais e das necessidades do paciente. Antes de ter um animal de estimação, é aconselhável discutir suas intenções com um profissional de saúde mental ou um terapeuta de animais", disse Marcos Figueiredo ao F5 News.

Estratégias para incorporar animais de estimação na rotina de autocuidado

A psicóloga Bianca Galindo destaca ser preciso compreender a realidade de cada indivíduo ao incorporar um animal de estimação em sua rotina de autocuidado. “É importante compreender a vivência atual de cada um e descobrir quais rotinas fazem mais sentido e qual animal se encaixaria melhor. O interessante é que ele esteja próximo ao dono para que se tenha o contato físico e trocas de carinho”, explica ela ao portal. 

“Ter um animal de estimação seria o próprio estímulo para se gerar uma rotina de cuidado, já que o animalzinho provocaria movimentação, considerando os cuidados necessários básicos como dar ou levar para tomar banho, fazer as necessidades e passear”, completa.

Terapias assistidas por animais: uma abordagem terapêutica

O veterinário Marcos cita várias terapias assistidas por animais para pacientes com transtornos psicológicos:

1. Terapia com cães: Envolve interagir com cães treinados em um ambiente terapêutico. Os pacientes podem acariciar, brincar e cuidar dos cães, o que pode aliviar o estresse e a ansiedade.

2. Equoterapia: Utiliza cavalos como parte da terapia. A interação com cavalos pode melhorar a autoconfiança, a paciência e a coordenação motora, além de proporcionar uma conexão emocional.

3. Terapia com Gatos: Gatos são conhecidos por sua natureza calmante. A simples presença de gatos ou a interação com eles pode reduzir a ansiedade e promover o relaxamento.

4. Terapia com Animais de Fazenda: Interagir com animais de fazenda, como cabras, ovelhas e galinhas, pode proporcionar uma sensação de tranquilidade e conexão com a natureza.

"É fundamental que essas terapias sejam conduzidas por profissionais de saúde qualificados, como terapeutas ocupacionais, psicólogos ou médicos veterinários especializados em terapia assistida por animais", enfatiza Marcos.

O papel dos médicos veterinários

Os médicos veterinários desempenham um papel importante na orientação de pacientes e suas famílias sobre o uso adequado de animais como parte de um plano de tratamento para transtornos psicológicos. Marcos Figueiredo compartilha algumas maneiras pelas quais eles podem contribuir:

1. Avaliação de Compatibilidade: Auxiliar no processo de avaliar a compatibilidade entre o paciente e o tipo de animal de estimação que desejam adotar.

2. Educação sobre Cuidados: Fornecer informações detalhadas sobre os cuidados necessários para o animal escolhido.

3. Treinamento: Orientar sobre o treinamento adequado do animal escolhido.

4. Saúde mental do animal: Monitorar a saúde mental e emocional do animal de estimação.

5. Intervenções Terapêuticas: Em algumas situações, os veterinários podem trabalhar em conjunto com terapeutas de saúde mental para implementar intervenções terapêuticas específicas.

6. Referências profissionais: Quando necessário, os veterinários podem fazer referência a terapeutas especializados em terapia assistida por animais.

7. Acompanhamento contínuo: Os veterinários podem oferecer acompanhamento contínuo para garantir que o animal esteja saudável e que a relação entre o paciente e ele funcione bem.

Fonte: F5 News