Em ofício, chefe da PRF em Brasília manda servidores participarem de ato com mensagens religiosas

Em ofício, chefe da PRF em Brasília manda servidores participarem de ato com mensagens religiosas
Mensagem exibida aos servidores da PRF durante evento no qual presença era obrigatória — Foto: Reprodução

O superintendente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) em Brasília, Leonardo Alves de Oliveira Rodrigues, enviou um ofício aos servidores do órgão no qual determinou aos agentes que fossem a um evento com mensagens religiosas.

No ofício, ao qual a GloboNews teve acesso, Rodrigues disse que seria um "pequeno evento, trabalhando a saúde para o corpo, mente, espírito e financeiro".

Agentes, no entanto, relataram desconforto com a ordem, uma vez que, no evento, foram exibidas mensagens com trechos da Bíblia, além de conselhos sobre "os efeitos da fé" e como esses conselhos são "bons no controle da ansiedade".

A GloboNews buscava contato com a PRF até a última atualização desta reportagem.

No ofício, o superintendente diz: "O evento faz parte das ações de saúde desenvolvidas pelo Posserv-DF, sendo de participação obrigatória aos servidores lotados na SPRF-DF que não estejam de plantão nos dias do evento."

E acrescenta: "As justificativas legais (férias, licença médica ou licenças previstas nos art. 18 e art. 81 da Lei nº 8.112/90) para não participação do evento deverão ser enviadas".

>>> Veja abaixo um trecho do ofício enviado pelo superintendente da PRF em Brasília aos servidores:

Trecho de ofício enviado pelo chefe da PRF em Brasília aos servidores do órgão obrigando os agentes a irem a um evento com mensagens religiosas — Foto: Reprodução
 

Servidores reclamam

Na condição de anonimato, servidores da PRF em Brasília relataram desconforto com a situação.

Disseram que o desconforto tem origem no fato de que a presença no evento era obrigatória, mas nem todos são da mesma religião.

Reforçaram, ainda, que a Constituição proíbe imposições de crenças e valores uma vez que o Estado é laico.

E destacam que, no ofício, o superintendente não informou que o evento exibiria versículos da Bíblia.

MPF investiga cartilha da PRF

Em agosto, o Ministério Público Federal (MPF) decidiu apurar a distribuição, pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), de livros com recomendação de leitura diária da Bíblia durante o expediente.

A distribuição da cartilha foi revelada pela GloboNews. O conteúdo do livro gerou incômodo entre os servidores, que avaliaram que o governo não deveria misturar religião e trabalho.

Na ocasião, a PRF informou que não registrou queixas na Ouvidoria sobre a distribuição dos livros.

Ao abrir a apuração sobre o caso, o procurador Enrico Rodrigues de Freitas, da Procuradoria da República no Rio Grande do Sul, entendeu que há indícios de afronta à Constituição.

A decisão é baseada no Artigo 19 da Constituição, que diz: "É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público; recusar fé aos documentos públicos; criar distinções entre brasileiros ou preferências entre si."

Fonte: Camila Bomfim, GloboNews — Brasília