Análise: Flamengo sobra tecnicamente, mas precisa manter nível de concentração na Libertadores
O golaço de Pedro que decretou a vitória do Flamengo sobre o Unión La Calera por 4 a 1, no Maracanã, foi o símbolo da disparidade técnica entre as duas equipes. Sua representatividade vai até além: mostra como o time carioca, livre, leve e solto, é capaz de momentos de encantamento em condições normais de temperatura e pressão.
A partida contra o time chileno, porém, mostrou também o outro lado: o risco de se perder pontos considerados fáceis quando a equipe não está completamente concentrada. Num período de cerca de 20 minutos no segundo tempo, por exemplo, o Flamengo quase complicou um jogo dominado, com uma vantagem de dois gols. A expectativa é de que isso sirva como uma lição para a sequência da competição.
Início sufocante
O time titular rubro-negro, tecnicamente, encontra pouquíssimos rivais na América do Sul. A equipe tem entrosamento, está confortável dentro do sistema de jogo trabalhado e possui jogadores capazes de desequilibrar nos momentos de dificuldade.
Neste cenário, o início do Flamengo foi sufocante: não deixou o assustado rival chileno sair do campo de defesa, controlou o ritmo e deu a impressão de que faria um gol a qualquer momento. Talvez essa conclusão tenha atrapalhado o time, que passou a oscilar à medida que percebeu que o La Calera ameaçava pouco.
Quando o Flamengo conseguiu tocar a bola, balançar a marcação chilena e encontrar espaços, os gols de Gabigol e Arrascaeta vieram naturalmente, sem precisar forçar tanto, em boas jogadas coletivas do setor ofensivo do Flamengo.
Gerson, com mais liberdade para chegar ao ataque, iniciou a jogada do primeiro gol e deu ainda mais força ofensiva. Os gols, em bonitas construções, foram mais uma demonstração de superioridade técnica da equipe.
Preocupação no segundo tempo
A volta para o segundo tempo, porém, acendeu o alerta. Sem muito mais a perder, o La Calera se lançou ao ataque: espetou dois atacantes centralizados para neutralizar os zagueiros do Flamengo, apostou na velocidade e foi premiado com um gol marcado por Sáez, em lançamento nas costas da zaga.
Animado com a estratégia, o time chileno se lançou ainda mais ao ataque - por vezes, tinha três atacantes por dentro. O Flamengo, que voltou desligado, viveu seu pior momento no jogo e correu o risco de ceder o empate.
- Não é que você não entre ligado, mas o adversário naturalmente busca mais o gol, pressiona um pouco mais. Assim como se arrisca a sofrer o gol no mano a mano. Mas ele aumenta a possibilidade de finalizar no seu gol. Quando estivermos vencendo a partida, também temos que manter o nível de concentração elevado. Realmente, sofremos nos 15 minutos iniciais do segundo tempo - analisou o técnico Rogério Ceni após a partida.
Mas, mesmo neste momento em que não conseguiu controlar o jogo, o Flamengo teve soluções. O La Calera se expôs tanto em seu all-in que seria difícil ceder tanto espaço para os rubro-negros sem ser castigado. Em rápido contra-ataque, Bruno Henrique serviu Gabigol, que definiu a partida. Logo depois, veio a pintura de Pedro.
Liderança consolidada
O número de finalizações mascara um pouco o momento de dificuldade do Flamengo no jogo: foram 22 contra três do La Calera. Outro dado, porém, revela o período de tensão: o time chileno teve 52% de posse de bola no segundo tempo, o suficiente para castigar a equipe de Rogério Ceni.
Outra estatística, ainda mais importante, é a tabela da Libertadores: o Flamengo lidera o Grupo G com seis pontos e uma boa folga para o próprio La Calera, terceiro colocado com um ponto. O time não deve ter dificuldade para confirmar a classificação nas próximas rodadas.
Para o mata-mata, porém, fica o alerta. O Flamengo é um dos melhores times da competição, tem um arsenal técnico invejável, mas não poderá se dar ao luxo de baixar sua concentração em momentos críticos do jogo. Algo que ocorreu, por exemplo, na eliminação para o Racing em 2020.
Em condições normais, com seus principais jogadores inspirados, o Flamengo sobra tecnicamente. Caso oscile menos, será ainda mais difícil de ser vencido no continente.
Fonte: Globoesporte.com